Sereia

Pedro J. Nunes

O conto "Sereia" foi publicado na antologia da Editora Brasiliense Jovens contos eróticos, em 1987. O concurso literário que deu origem ao livro contou com quase 2.000 escritores inscritos em todo o país. Destes, vinte foram selecionados para participar da antologia, e entre eles estava eu.

Embora reconheça a baixa qualidade do texto, escrito em uma manhã em suas pobres duas versões - o rascunho e o texto definitivo -, ele me projetou como escritor, afinal estava sendo publicado pela Editora Brasiliense, uma das maiores editoras brasileiras daquela época. Com esse maior e talvez único mérito, aqui vai para matar a curiosidade de um e de outro que deseje conhecê-lo.

 

 

A minha prima tem um diário cor-de-rosa, enfeitado de florzinhas. Eu sei porque a ouvi dizendo a outra prima. E lá devem existir muitos segredos, porque elas cochichavam e riam. Eu vou até a janela que dá no seu quarto. Está aberta. Será que ela vai gritar se eu olhar lá dentro? Resolvo, me aproximo da janela e não vejo ninguém. Seria até bom se ela estivesse nuazinha, deitadinha de bruços na cama, a bundinha arrebitadinha de cabelinhos pardos... Pulo a janela e começo a bisbilhotar e numa das gavetas, debaixo das roupas, bem escondido acho o diário! Abro-o afoito e onde batem os olhos já vou lendo "quando o Paulinho me põe as mãos debaixo da saia e me afaga, ai, eu não sei o que fazer, ele pede eu digo não, só um pouquinho eu digo não, ai, que vontade de dizer sim, a vista escura de tanta vontade". Assusto-me com minha prima entrando quarto adentro, no princípio assustada, depois correndo em minha direção, nervosa.

— Dá isso aqui, Edu! Se você não der eu grito!

— Grite, grite que eu dou o diário pra titia! Você quer que ela saiba dos seus sarrinhos com seu namorado, hein?

Ela cora de vergonha, mas eu sei bem que vergonha, eu sei que já a vi, louco de desejo, se esfregando no banheiro.

— Depois que eu ler, resolvo o que fazer...

— Ah, não, Edu... Eu...

Ai meu coração!

— O que é que você...? — balbucio.

— Dá isso, dá...

— Só se você me der um beijo bem molhado...

— Só um beijo? — a voz macia de gata.

— Só estamos nós aqui... Feche a porta... A gente bem que podia...

Ela vem se aproximando de mim, de repente pula, só que eu já pulei a janela e me embrenhei no pomar. Agora tenho um trunfo pra usar contra ela. De hoje não passa. A mim pouco importa que eu seja bem mais novo que ela, moça já feita. Deve ter os peitinhos durinhos, gostosos de lamber... Ponho-me a ler o diário e nossa! Como minha prima é safadinha. "Hoje Paulinho pediu insistentemente que eu botasse a mão, como eu não me decidisse, ele abriu a calça e ficou esfregando aquilo em mim, duro... Ai, eu não quero, mas é tão bom, ou melhor, quero, já não sei até quando vou aguentar." Mais à frente "Hoje aconteceu uma coisa que eu não devia escrever, mas é que me agrada tanto escrever essas coisas. Eu sei do perigo de mamãe pegar isso e descobrir tudo, mas é que é tão gostoso ficar lembrando... Quando é que eu vou ter coragem de deixar? Hoje eu e Paulinho estávamos debaixo das árvores, estava escuro, ele pediu que eu virasse de costas para ele, aí me levantou a saia e ficou esfregando a mão, que foi tirando devagarinho a minha calcinha, deixando-me seminua e zonza. Depois eu senti aquela carne dura fazendo cosquinhas nas nádegas, deixando na minha pele um molhadinho bom".

Neste ponto eu sinto alguém agarrar-me fortemente pelos ombros e dou um pulo, diário na mão. É minha prima, tem cara de choro.

— Dá o diário, Edu... Isso não lhe interessa... — pede com a voz quase chorando.

— Eu não — digo, com um nó na garganta. — Estou até gostando...

Eu me lembro dela passando o sabonete na bundinha quando tomava banho, eu atrás da porta. Ela gostava de enfiá-lo entre as nádegas... Ai, priminha, que vontade de alisá-la também...

— Eu dou, mas com uma condição...

— Qual? Qual?

— Se você deixar um pouquinho... — digo hesitante. — Ninguém vai ver, e além disso, é uma vez só...

— Não...

— Então eu mostro pra titia e pros meninos...

— Não...

— Deixa, vai...

— Não...

— Ah, priminha...

— Ah, está bem, eu deixo...

— Então tira a calcinha...

— Você me promete que vai dar o diário...

— Pro... prometo...

Ela se deitou no chão, puxou a saia, ai, o resto não conto...

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