O prazer de escrever e ler

Francisco Aurélio Ribeiro

O Espírito Santo tem se destacado como terra de cronistas (Rubem Braga, Tatagiba, Marcos Alencar, Marzia Figueira, dentre vários), poetas (Geir Campos, Roberto Almada, Sergio Blank, Valdo Motta) e alguns poucos mas bom romancistas (Reinaldo Santos Neves, Luiz Guilherme Santos Neves, Renato Pacheco). Os contistas, embora os haja (Bernadette Lyra, Adilson Vilaça, Marcos Tavares, Francisco Grijó), são pouco expressivos em relação à prodigalidade dos mineiros, por exemplo.

Pedro J. Nunes é um contista de primeira linha. Escritor-revelação, recebeu o prêmio Almeida Cousin, concedido pelo IHGES, por seus dois livros publicados em 1992, Aninhanha e Vilarejo, ambos editados pela SPDC/UFES.

Sai agora editado, em 2ª edição, visto que a 1ª, de mil exemplares, esgotou-se em pouco mais de um mês, ao final do ano passado, o conto Vilarejo, acrescido de outros quatro mais: O porcoA questãoO relógio e A divisória.

Pedro J. Nunes traz para o leitor atual o prazer do contador de “causos”, aliado ao do escritor que não abusa dos preciosismos linguísticos, embora recupere com propriedade o sabor regional do discurso de seus personagens. Suas histórias prendem o leitor, pois mantêm uma estrutura tradicional de enredo, personagens, espaço, tempo e ação, com a manutenção do suspense e a imprevisibilidade do desfecho.

Diferentes das experiências modernas e pós-modernas da desconstrução, do anticlímax, de excessiva preocupação metalinguística, as histórias de Pedro J. Nunes recuperam o sabor e o saber dos melhores contos do realismo psicológico, cujos mestres são Machado de Assis e Graciliano Ramos, intercalando-os com o tempero regionalista e (pouco) experimentalista à Guimarães Rosa.

Pedro J. Nunes é uma grata revelação de escritor. Transmite ao leitor, certamente, o mesmo prazer que possui ao escrever suas histórias nascidas de uma infância percorrida num cenário rural (Ibitirama ou São José do Calçado) e que são recuperadas pelo imaginário dos cidadãos urbanos que somos. Mesmo perdida a infância tão recente, a violência dos dias atuais não parece tê-la tornado tão distante. 

O autor é escritor e professor do DLL da UFES.

Publicado em A Gazeta em 7 de novembro de 1993.

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